30/05/2023
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Brasil Jair Bolsonaro Política

Sem margem para errar

Sem margem para errar

Editorial Estadão

Pesquisa de opinião sobre Bolsonaro mostra que não há um colchão de apoio popular que permita trapalhadas

A primeira pesquisa de opinião pública sobre o presidente Jair Bolsonaro mostra que não há um colchão confortável de apoio popular que permita descuidos, omissões e trapalhadas. Para um governo que acaba de estrear – são dois meses desde a posse –, as margens de aprovação são estreitas. Realizada entre os dias 21 e 23 de fevereiro, a pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) é um alerta para o presidente Jair Bolsonaro. É passada a hora de descer do palanque e começar a governar.

Bolsonaro ainda tem o apoio majoritário da população. Em relação ao seu desempenho pessoal, 57,5% dos entrevistados aprovam, 28,2% desaprovam e 14,3% não souberam opinar. Chama a atenção, no entanto, o baixo índice de apoio para um governo com dois meses de funcionamento. Apenas 38,9% dos entrevistados avaliam o governo Bolsonaro como positivo. Para 29% a atual administração é regular, 19% consideram-na negativa e 13,1% não souberam opinar.

A maioria da população está mais otimista com o futuro do País. Por exemplo, 51,3% avaliam que a situação do emprego irá melhorar nos próximos seis meses. Em setembro do ano passado, esse porcentual era de 23,3%. Na atual pesquisa, 28,7% disseram que o emprego continuará igual e 17,2%, que irá piorar.

Também houve melhora na expectativa sobre a renda pessoal. Para 33,8%, a renda mensal pessoal deverá aumentar nos próximos seis meses. No ano passado, esse porcentual era de 21,9%. O maior otimismo também é percebido em relação à saúde, educação e segurança pública.

É inegável, portanto, que a maioria da população deposita confiança no presidente Jair Bolsonaro, o que é um ativo importante para o governo empreender as reformas de que o País necessita. Ao mesmo tempo, para não frustrar essa elevada expectativa, é preciso que o governo produza resultados. A pesquisa revela com muita clareza que a população espera, para os próximos seis meses, uma efetiva melhora da situação econômica e social do País. Não há, assim, tempo a perder com falsas polêmicas, extremismos ideológicos ou discursos de campanha. É hora de um saudável pragmatismo.

A pesquisa indica que o principal desafio destacado pela população é a saúde, seguida da segurança e educação. O principal tema não é, como às vezes se diz, a corrupção. Outro ponto que merece atenção é o fato de que, apesar do apoio ao presidente, a população não compartilha da lista de prioridades de Bolsonaro. Por exemplo, a maioria dos entrevistados (52,6%) desaprovou o decreto que facilitou a posse de arma, uma das principais bandeiras da campanha do candidato do PSL, que foi uma das primeiras medidas do novo governo.

Há melhor percepção da população a respeito da reforma da Previdência. Segundo a pesquisa, 43,4% dos entrevistados aprovam a alteração das regras previdenciárias, porcentual significativo para um tema considerado impopular. Mas é maior o número de pessoas que desaprovam a reforma (45,6%). É mais um dado a confirmar a necessidade de uma comunicação efetiva sobre a reforma da Previdência, bem como de um amplo e intenso trabalho do Executivo com os parlamentares. Se o assunto não for bem trabalhado, a vozeria das redes sociais pode representar um sério obstáculo a uma reforma consistente.

A pesquisa da CNT indica que os percalços desses dois meses de governo Bolsonaro não passaram despercebidos da população. A maioria dos entrevistados (58,3%) acompanhou ou ao menos ouviu falar sobre a exoneração de Gustavo Bebianno da Secretaria-Geral da Presidência da República, após desentendimento público com Carlos Bolsonaro, filho do presidente. Vale notar que 56,8% já perceberam que os filhos do presidente Jair Bolsonaro interferem nas decisões do pai, e 75,1% são contrários à influência de familiares sobre o presidente da República em suas decisões de governo. Se Jair Bolsonaro não mudar, há aí um elemento que pode minar sua popularidade. O eleitor elegeu Jair Bolsonaro e espera que ele de fato governe.

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https://opiniao.estadao.com.br/noticias/notas-e-informacoes,sem-margem-para-errar,70002738525

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